Ponto de Cultura

Quilombo do Sopapo

Atualizado em 05/04/2025, por Argonauta Cultural

Foto: Julio Rodrigues/ CVP

A Associação Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo é um Centro Comunitário de Cultura, criado em 2008, resultante de uma parceria da Guayí, SINTRAJUFE, comunidades da região, coletivos culturais com o fomento do Ministério da Cultura via programa Cultura Viva. Busca incentivar e desenvolver ações comunitárias que integrem arte, cultura, cidadania e economia solidária, estimulando a construção de uma cultura de não-violência, que resultam numa rede de articulação, recepção e disseminação das manifestações artísticas. O público prioritário é da faixa etária de 14 a 29 anos, oriundos de famílias das comunidades da região do Cristal e Morro Santa Tereza. 

Apostando na dimensão econômica da Cultura e seu potencial para geração de trabalho e renda digna, bem como o desenvolvimento dos nossos territórios de atuação, com altos índices de vulnerabilidade social, a Associação Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo mantém de forma permanente a realização de Oficinas de formação socioculturais nas áreas de Fotografia, Teatro de Animação, Audiovisual e Contação de Histórias com Música Percussiva, uma rede de trabalhadoras e trabalhadores da Cultura com presença marcante de mulheres, negras e negros, periferia e LGBTQIANP+ (08 educadores e 23 associados efetivos), que atuam na prestação de serviços socioculturais com reversão para os trabalhadores e suas famílias e para um fundo de manutenção sustentável do Quilombo do Sopapo.

Mantemos também serviços de atendimentos regulares às comunidades. Cotidianamente, as comunidades, especialmente crianças e adolescentes, podem acessar os seguintes serviços:

Biblioteca Comunitária Mestra Griô Sirley Amaro: com sala de leitura, empréstimos de livros e mediação de leituras, além da oferta periódica de contação de histórias feitas por artistas voluntários e oficinas de criação de livros cartoneros.

Telecentro: acesso a sala de computadores com 12 máquinas, todas conectadas à internet banda larga. Os usuários podem acessar o telecentro para realização de trabalhos escolares, jogos, acesso a redes sociais e para cadastros em plataformas de serviços públicos. Também foi realizado um curso de informática básica e inclusão digital, no período de julho a outubro do ano passado (2022). Em ambos os espaços, contamos com o apoio das atendentes, para tirar dúvidas e colaborar com o atendimento de forma individual ou em grupos.

Através de linguagens artísticas como teatro de bonecos, fotografia e audiovisual, desenvolvemos projetos socioculturais nos territórios do Cristal e Morro Santa Tereza e nos somamos à luta dessas comunidades contra a violação de seus direitos. Assim, a Associação Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, em uma reconhecida trajetória de 15 anos, se firmou como um centro comunitário de cultura, que sempre teve a arte e a cultura como estratégias para realização de sua ação transformadora nos territórios do Morro Santa Tereza e do bairro Cristal, além de promover iniciativas de geração de trabalho e renda dignas a partir da organização e auto-gestão de trabalhadores da cultura, apostando também na profissionalização das juventudes dentro deste segmento, o da Cultura.

Fotos: Luiza Costa/ Sul 21

Incubadora Cultural e Tecnológica do Quilombo do Sopapo

Desde o seu surgimento em 2008, o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo se estruturou como uma incubadora cultural, baseada na aposta e na convicção da dimensão econômica da Cultura que, interseccionada com suas dimensões simbólicas/identitárias e sociais, são decisivas para o desenvolvimento integral de nossas comunidades e territórios, especialmente aqueles marcados por profunda pobreza, vulnerabilidade e violência, como são os territórios do Cristal e Morro Santa Tereza, onde atuamos. Assim, O Quilombo do Sopapo desde o início tem entre seus objetivos o propósito de gerar renda com o trabalho autogestionário, cooperativo e solidário a partir da produção cultural em suas diferentes linguagens e expressões, buscando construir alternativas de trabalho, de realização e de sustentabilidade para as pessoas.

Os primeiros empreendimentos criados pelo Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo com o apoio da OSCIP Guayí e fomento da política de segurança pública e direitos humanos foram a produtora de audiovisual Cristalizar Vídeo Produções – CVP e o Estúdio Multimeios, geridos por jovens da periferia, com ampla participação de mulheres e negros. Tais empreendimentos consolidaram a experiência da incubadora cultural e tecnológica do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, enquanto espaço de intercâmbio e assessoramento permanente dos empreendimentos. 

Atualmente, a incubadora é formada pelos seguintes empreendimentos:

– Cristalizar Vídeo Produções – CVP, na área de audiovisual, especialmente de produção de curtas e de reportagens sociais sobre os territórios de atuação;

– NuTA – Núcleo de Teatro de Animação, na área de teatro e desenvolvendo processo de criação e circulação de espetáculos artísticos e oferta de oficinas especializados em Teatro de Animação;

– Estúdio Multimeios, na área de produção de áudio, com espaço próprio para prestação de serviços de captação, edição e pós-produção na área de música, trilha sonora e áudios em geral, tendo recentemente feito a incursão na produção de podcasts;

– Imagens Faladas, na área de fotografia, coletivo com oferta permanente de oportunidades de formação em fotografia e de criação e circulação de exposições fotográficas comunitárias, com 04 livros fotográficos publicados;

– Sopapo de Mulheres, na área de artes integradas e com recorte de gênero (apenas participação de mulheres cis ou trans), voltado para a criação multidisciplinar, já tendo desenvolvimento projetos de radioarte e artes visuais e projetos multiartes.

Ver sobre a Incubadora Cultural em: https://quilombodosopapo.redelivre.org.br/incubadora

Fotos: Acervos do Quilombo do Sopapo/ Coletivo Imagens Faladas

Histórico de atuação e desafios dos territórios

A Associação Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo, em uma reconhecida trajetória de 16 anos, se firmou como um centro comunitário de cultura, que sempre teve a arte e a cultura como estratégias para realização de sua ação transformadora nos territórios do Morro Santa Tereza e do bairro Cristal. O público prioritário são adolescentes e jovens. Todo o trabalho do ponto de cultura, desde a sua origem em 2008, é realizado em diálogo com esses territórios, razão pela qual mantém, em sua estrutura de funcionamento, um Conselho Gestor Comunitário formado por representantes de lideranças, escolas e outras organizações, como estratégia para ampliar seu raio de ação e exercitar o controle social das comunidades sobre o trabalho que desenvolvemos. 

A Região do Cristal e Morro Santa Tereza, periferia de Porto Alegre – RS, onde o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo está localizado, vive um processo de intensa modificação no seu território desde a edificação do maior Shopping da América Latina, do Museu Iberê Camargo e mais uma série de obras realizadas ou ainda inacabadas para a Copa do Mundo de 2014; situações estas que vem violando os direitos humanos das famílias da região à moradia digna e de permanência no território que ajudaram a construir nestas últimas cinco décadas, agravada pelas intensas investidas da especulação imobiliária na região. Famílias, associações locais e grupos encontram-se organizados em luta e campanha pelo fim das remoções das famílias e pela garantia de condições dignas de moradia de permanência em seu território, entendido para além do território geográfico e econômico, mas onde as famílias têm seus afetos e raízes simbólicas e culturais. Os impactos emocionais, sociais e econômicos dessas situações sobre a vida das crianças, adolescentes e jovens da região é devastador, muitos tendo que sair de suas comunidades de origem, com rompimentos dos vínculos afetivos com familiares, amigos, sua rua, escola, etc. muita vezes para uma situação de extrema vulnerabilidade social. Todo esse quadro piorou com a agudização das desigualdade sociais, da miséria e da fome, bem como do rompimento de vínculos comunitários e de resistência por conta das consequências nefastas da pandemia da Covid-19 e pela incapacidade de enfrentamento do governo anterior à crise sanitária. Tal situação, encontra-se neste momento também agravada pela tragédia climática que se abateu sobre o estado do Rio Grande do Sul em maio de 2024, com impactos duradouros e ainda imprevisíveis sobre a vida social, econômica e cultural de todo o estado.

O Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo atende as comunidades que estão sendo impactadas em seu território por estas transformações e que são parte da identidade cultural, memória e protagonistas da construção desta Região. Mais que um espaço para formação, fruição e manifestações culturais, o “Quilombo do Sopapo”, como somos conhecidos na região, se consolidou também como importante lugar de encontro, articulação e planejamento de ações em favor da garantia de seus direitos.

Desde 2008, quando o Quilombo do Sopapo passou a ter atendimento diário ao público e a funcionar como um Centro Comunitário de Cultura, acompanha essas transformações, sendo espaço para reuniões comunitárias das frentes que organizaram processos de resistência à investida da especulação imobiliária conduzida por projetos com recursos públicos, bem como da redução de danos das consequências destas investidas de higienização, com expulsão das famílias das áreas irregulares afetadas por estas obras.

Desde 2017, o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo passou a ser representado e gerido através de uma pessoa jurídica própria – como uma associação cultural – e vem, desde então, buscando meios e estratégias para fortalecer sua missão de transformar nossas comunidades através da Cultura de Base Comunitária. Do rico diálogo e escuta comunitária, pudemos acumular nos últimos anos um diagnóstico profundo e preciso sobre necessidades estratégicas para nós e pensar ações que possam fazer frente a antigas e novas situações que desafiam nossa missão e ações. 

Uma Pedagogia Griô em torno do Sopapo

O ponto de cultura tem na sua centralidade a preservação do tambor de Sopapo, instrumento tradicional gaúcho e representante da presença negra no Rio Grande do Sul. O Sopapo dá nome ao espaço, juntamente com o Quilombo, traduzido em nossa experiência concreta como estratégia de aquilombamento cultural. Como parte de sua pedagogia griô e “tambor centrada”, também atua na preservação da memória de importantes mestres da cultura popular gaúcha, que estiveram presentes na cerimônia de “benção dos padrinhos e madrinhas” que deram abertura ao espaço em sua fundação: O Quilombo do Sopapo abriu suas portas pelas benção de Mestre Baptista, importante luthier de Sopapo (em memória), Mestre Giba-Giba, músico e um dos mais importantes disseminadores do Sopapo e da luta por sua preservação (em memória), Mestra Griô Sirley Amaro, reconhecida contadora de história, costureira e carnavalesca de Pelotas (em memória; a biblioteca comunitária do Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo leva o seu nome) e a banda Bataclã FC, coletivo musical autoral liderada pelo cancionista, compositor e cantor Richard Serraria. Através de linguagens artísticas como teatro de bonecos, fotografia e audiovisual, desenvolvemos importantes projetos de memória social e de constituição de acervos memoriais sobre os territórios do Cristal e Morro Santa Tereza e da luta dessas comunidades contra a violação de seus direitos, nos quais a memória destes mestres e mestras se faz presente como inspiração e referência.

Cultura Viva e Atuação em Redes

Ao longo de sua trajetória de quase duas décadas de atuação, o Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo sempre teve uma participação ativa através de seus representantes na Rede RS de Pontos de Cultura, contribuiu com a organização e realização de encontros de pontos de cultura no Estado (TEIA RS) e, a nível nacional, sempre acompanhou e participou dos debates da Comissão Nacional de Pontos de Cultura. Destacamos ainda que o Quilombo do Sopapo contribuiu com a articulação e realização do IV Encontro Nacional da Rede de Pontos de Cultura e Memória Rurais, realizado em 2022 com apoio do IberCultura Viva.

O Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo tem participação ativa em algumas redes, desenvolvendo ações em comum: ações de Economia Solidária da Cultura com a Rede de Economia Solidária e Feminista – RES, ações de fomento e disseminação do livro e literatura com a Rede Beabah de Bibliotecas Comunitárias do Rio Grande do Sul, através de nossa biblioteca comunitária, a Biblioteca Comunitáriia Mestra Griô Sirley Amaro e ações em conjunto com outros pontos de cultura, através da Rede RS de Pontos de Cultura.

O Quilombo do Sopapo é reconhecido pelo seu profundo enraizamento comunitário, tendo surgido exatamente da articulação de agentes e movimentos locais dos Territórios do Cristal e Morro Santa Tereza (periferias de Porto Alegre). É a partir destes agentes e movimentos que o Quilombo do Sopapo organiza e capilariza sua atuação pelos territórios, tendo articulado desde a sua fundação a experiência de um Conselho Gestor Comunitário, que depois foi integrado à Lei que instituiu a Política de Cultura Viva do Estado do RS. Compõe atualmente o Conselho Gestor Comunitário lideranças comunitárias, representantes de escolas públicas da região, movimentos sociais e serviços públicos (CAPS, CRAS, OP e outros). Além de contribuir com a ação do Quilombo do Sopapo, o Conselho Gestor articula o apoio do ponto de cultura a outras iniciativas socioculturais realizadas nas comunidades, como palestras, oficinas, festas comunitárias, cine clube e ações de democratização do livro e da leitura.

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